quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Estudantes marcham em Brasília em defesa dos Guarani Kaiow

Índios, estudantes e simpatizantes da causa fazem manifestação na Esplanada dos Ministérios
Com rostos pintados, estudantes de escolas e universidades de Brasília se reuniram com representantes de movimentos sociais e indígenas de vários Estados, como São Paulo e Mato Grosso, para manifestar o apoio aos guarani kaiowá que lutam há décadas para conseguir a posse da terra em que vivem em Mato Grosso do Sul.
Aluna de uma escola pública, Bianca Gomes de Souza, 16 anos, explicou o motivo da presença dos estudantes no manifesto: "Esta semana, assistimos a um filme sobre a luta dos guarani. Não sabíamos. Decidimos vir para ajudar no protesto. Queremos que a terra seja dada aos índios já que a terra é deles", disse.
Bisneta de um índio da etnia Guarani Kaiowá do Rio Grande do Sul, a nutricionista Denise Camargo da Silva disse que só soube dos episódios em Mato Grosso do Sul pela rede social Facebook. Denise criticou a falta de informações sobre o que ocorre nas regiões onde vivem índios no País.
"Trabalhei em um projeto pela UnB (Universidade de Brasília) e visitei algumas etnias em vários lugares do País. Independentemente do local, eles índios sofrem, são segregados, discriminados e violentados. E a língua deles poucas pessoas falam. Até isso estamos perdendo e são nossos ancestrais", criticou a nutricionista.
O manifesto também contou com o apoio de representantes de outros grupos indígenas. É o caso de Manuel Claudionor, índio da etnia Mutina, de Mato Grosso. Ele é estudante e disse que soube do protesto pelas redes sociais. "Vim pelo que acontece na terra dos guarani, que estão perdendo a terra, muitos estão sendo assassinados ou estão se matando pela perda de seu espaço, da sua cultura. Somos índios e temos convicção de que todos temos os mesmos direitos. Somos os primeiros habitantes do Brasil", disse.

"Os guarani estão sofrendo muito e alguns consideram que eles estão invadindo fazendas, sendo que a terra é deles. Tem que demarcar para que eles possam viver lá e sejam respeitados como povo", defendeu.
O ato que marcou a primeira manifestação pública a favor do povo Guarani Kaiowá nas ruas da capital federal, desde que os conflitos entre índios e fazendeiros foram retomados, começou a ser organizado por um grupo de estudantes da Universidade de Brasília (UnB). "Começamos a divulgar nas redes sociais e rapidamente tivemos a adesão de centenas de pessoas que começaram a mudar seus nomes no perfil do Facebook acrescentando o nome da etnia Guarani Kaiowá aos sobrenomes e confirmaram a presença na passeata. Essas pessoas divulgaram várias informações sobre a realidade desse povo", explicou Luiza Oliveira, estudante da UnB.

Ontem, o governo federal anunciou a suspensão da liminar que determinava a retirada dos índios guaranis kaiowá da Fazenda Cambará, em Mato Grosso do Sul. Com a decisão da Justiça, cerca de 170 índios que vivem no acampamento atualmente devem permanecer no local até que a demarcação de suas terras seja definida. Representantes do governo ainda garantiram que vão agilizar o processo de estudos para demarcação da terra indígena.
De acordo com o Ministério da Justiça, a Fundação Nacional do Índio (Funai) vai apresentar, em 30 dias, o relatório final com a delimitação da área reivindicada pelos índios.